segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Até tu, Oslo?

Hercules Rodrigues de Oliveira


A tragédia que se abateu na silenciosa Oslo – que desde 1901 é sede da entrega do Prêmio Nobel da Paz – chamou a atenção do mundo sobre a prática do terrorismo. A Noruega que integra a Escandinávia – região dos cinco estados-nação (Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia) – é conhecida como um país nórdico, cuja melhor representação se faz presente na imagem dos vikings e pela bandeira comum a todas elas, que estampa a cruz com um braço alongado, conhecida por “cruz escandinava”, símbolo dos cavaleiros templários. A Noruega é um país cristão que tem, em Santo Olavo, o seu protetor.

E foi na Escandinávia que o terrorismo mais uma vez mostrou uma de suas diferentes faces. Acostumados que somos às notícias vindas das escaldantes areias do deserto, eis que surge o terror nas gélidas e profundas aguas do Atlântico Norte, dizendo que o terrorismo não tem fronteiras. Para os leitores das histórias em quadrinhos (HD), Hagar, o protagonista viking – personagem do cartunista estadunidense Richard Browne – realmente se mostrou horrível.

Quando da explosão do carro-bomba próximo à sede do governo norueguês e, logo a seguir, o massacre de jovens no acampamento de verão na ilha de Utoeya, a propaganda midiática internacional associou o fato aos fundamentalistas islâmicos, como se o islã fosse a personificação de todo o mal. No entanto, para surpresa, o terrorista era um genuíno viking, Anders Behring Breivik, que não se matou e se entregou pacificamente às forças de segurança, assumindo seus atos e divulgando documento de sua autoria de mais de 1.500 páginas intitulado Manifesto pela independência europeia – 2083, assumindo ser fundamentalista cristão, caçador de marxistas, crítico ao que considera a islamização da Europa, contrário ao avanço do multiculturalismo, defendendo o que considera uma “Cruzada moderna”.

Para Anders Breivik, o Diabo é estrangeiro. Galeano explica que o “culpômetro indica que o imigrante vem roubar nosso emprego, e o perigômetro dispara a luz vermelha”. Neste caso, uma arma automática com munição especial que ao se fragmentar no corpo da vítima, provoca inúmeros danos. Munição típica das unidades de combate antiterroristas. O pensamento nacionalista muitas vezes xenófobo promove atitudes radicais contra a imigração, que, se para alguns é negativa, para outros traz prosperidade, pois promove inovação e dinamismo, bem como diminui a escassez de mão de obra. Países ricos estão lutando por medidas anti-imigração.

Nas páginas do manifesto pela independência europeia, o autor cita o Brasil como um mau exemplo em face de nossa capacidade multicultural e de miscigenação, que promove, segundo ele, falta de coesão interna, o que mostra que nosso modo de vida está de certa forma incomodando o pensamento daqueles que fomentam o etnocentrismo selvagem, típico de psicopatas, como foi o caso de Wellington Menezes de Oliveira que, em abril de 2011, na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo (Rio de Janeiro), matou 13 crianças e feriu outras 22.

Certamente que a distante Noruega deverá estar presente nos estudos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), para prospectar o fenômeno do terrorismo internacional e de alguma forma alertar que nossa gente pode ser alvo de atentados daqueles que não se conformam com nosso modo fraterno de ser.

Hercules Rodrigues de Oliveira é professor universitário

Nenhum comentário:

Postar um comentário