quinta-feira, 16 de junho de 2011

O TERRORISMO E O BRASIL


Carlos Nina*

A edição especial da revista Grandes Guerras (Editora Abril, dezembro/2009), dedicada às guerras travadas em nosso planeta atualmente, além da análise que faz dos conflitos que afligem os povos de vários Estados, aborda uma questão antiga que parece distante para o Brasil, mas que já deveria estar sendo tratada com ênfase no País. Tanto porque o Brasil já convive com essa realidade como porque é um fenômeno que se alastra com a mesma ou maior velocidade do que a própria globalização. Trata-se do terrorismo.

Nessa edição, Grandes Guerras traz uma entrevista com o historiador Francisco Carlos Teixeira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército brasileiro e coordenador do Grupo de Acompanhamento e Análise d Terrorismo Internacional (GAATI), Francisco Teixeira critica a parilisia da Organização Nacional das Nações Unidas (ONU) na discussão desse tema.

Respondendo à pergunta do entrevsitador, Flávio Ribeiro, sobre qual o papel da ONU no combate ao terrorismo, Francisco Teixeira foi lacônico: ?Há um grupo de trabalho na ONU que discute o neoterrorismo, mas não chega a uma conclusão, porque Estados Unidos e Israel tentam definir tudo como terrorismo, enquanto outros grupos tentam definir tudo como direito de resistência. Com isso, a discussão está paralisada desde 2001.?

O que pareceu maior preocupação do entrevistado foi chamar a atenção para a necessidade de ?trazer essa discussão sobre terrorismo para o Brasil?. Esse é o objeto do GAATI, grupo vinculado ao Laboratório de Estudos do Tempo Presente, da UFRJ, de cuja atuação resultou um livro recentemente lançado ? Neoterrorismo, Reflexões e Glossário -, organizado por Francisco Carlos Teixeira e Alexandre Zhebit.

Como explica Francisco Carlos, as operações comandadas pelo PCC, em São Paulo , ou pelo Comando Vermelho, no Rio de Janeiro, são atos de terrorismo. O terrorismo não precisa, para sua caracterização, de motivação política ou religiosa. Para Teixeira, o Brasil não tem entidade terrorista, mas já exerimenta o terrorismo, sob o comando do crime organizado.

O fato de ser o terrorismo político uma atividade vista como um fenômeno estrangeiro não retira o Brasil da sua mira, porque o neoterrorismo, como a ele se refere Teixeira, não tem fronteiras.

O entrevistado explica a mudança no comportamento do terrorismo, distinguindo o terrorismo histórico do neoterrorismo, enfatizando que o histórico é aquele que têm um objetivo específico. Cita os exemplos do ETA, na Espanha, do IRA, na Inglaterra e na Irlanda, e mesmo o Setembro Negro e o Fatah, que, quando atacavam fora de seus territórios, ?o faziam sempre tendo alvos israeleneses?.

O neoterrorismo ? afirma Teixeira - ?não tem campo de batalha. O mundo é o campo. Ele não tem um alvo definido. Seus alvos são todos os cruzados e infiéis, sejam eles cristãos, sionistas ou quaisquer outro grupo externo ao seu. Todos são alvos?.

O Brasil não está fora desse campo de batalha, que é o mundo. E, ressalta Teixeira, o neoterrorismo carece de mídia, de espetáculo. E o Brasil, inevitavelmente, está ocupando a mídia mundial. Além de ter como metas dois grandes eventos - a Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016 -, o Brasil tem tido um atuação internacional cada vez mais destacada, positivamente, a partir do Presidente José Sarney e, de modo acentuado, no Governo de Luís Inácio Lula da Silva, que tem sido tratado com distinção pela ousadia com que propala a pujança do Brasil.

Esse protagonismo internacional dá ao País uma visibilidade cada vez maior e cobrará o preço inevitável de suas conseqüências.

Assim, é importante e urgente que a sociedade brasileira se antecipe, discuta, conheça e se prepare melhor para enfrentar esse mal que não virá do futuro. Já faz parte do cotidiano brasileiro.

Falta apenas que a sociedade esteja preparada a fim de não ser afetada por paranóias inúteis. E o enfrentamento desse mal, segundo Francisco Teixeira, não está em mísseis ou exércitos, mas na inteligência e na polícia.

*Advogado. Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário